Práticas, tecnologias e intervenção social na educação profissional emancipatória




Comentários

  1. Almerico, quero lhe parabenizar pela exposição brilhante e objetiva, com tantos elementos fundamentais que seria bom um curso inteiro para dar conta....rsrsrs. Aproveito também para elogiar as interessantes indicações bibliográficas que você fez.
    Gostaria também que esclarecesse melhor essa noção que você trouxe de "epistemicídio", que eu desconhecia, mas que me interessou porque parece que se relaciona com algo que estou pesquisando no doutorado, neste momento. Agradeço sua atenção. (Maria Isabel Lopes Perez)

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    1. Cara Professora Isabel, que bom lhe encontrar aqui. Agradeço sua audiência e estamos amadurecendo uma proposta de ser um componente curricular do curso que a REDEEPT poderá ofertar em breve.
      Quanto ao "epistemicídio" tomei de empréstimo de Boaventura de Souza Santos (recomendo os livros "Pela mão de Alice" - onde li o termo pela 1a vez- e Epistemolgias do sul) , que analisa a possibilidade de outras epistemologias, outras formas de construção/aquisição/transferência de conhecimentos e saberes diferentes/alternativas à tradição europeia ocidental. E denuncia a destruição destas epistemologia como uma estratégia e consequência da colonização. Esse seria um dos fundamentos de um pensamento decolonial. Porém na fala, utilizo o termo em referência à negação dos saberes construídos/adquiridos pelos/as estudantes na vida social e no trabalho quando adentram na escola. Nós, professores termos a responsabilidade ético-política de recolher/resgatar/considerar estes saberes, não como algo absoluto, mas fazer a articulação com o conhecimento científico e tecnológico, adensando e resignificando tais saberes.

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  2. Explanação bastante clara e elucidativa. Preocupo-me muito com o perfil de muitos docentes da educação profissional pois, conforme referenciou e muito bem, alguns possuem títulos de mestres e doutores mas sem qualquer proeficiência pedagógica, sem licenciatura e uma práxis docente baseada ainda numa educação exclusivamente tradicional, resistente às técnicas inovadoras. No momento de pandemia que vivemos, no qual tivemos que passar rapidamente para uma educação remota emergencial, é imprescidível discutir todos esses aspectos envolvidos na formação do curriculo integrado em busca da educação profissional emancipatária. Acerca do apropriamento dos recursos digitais, na sua opinião, qual o caminho deveremos seguir em busca da rápida inclusão digital dos docentes e discentes da EPT?Leila Valverde Ramos

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    1. Professora Leila obrigado pela audiência e pelas referências elogiosas. De fato, precisamos de um olhar cuidadoso e ações permanentes de formação continuada dos nossos professores e professoras de EPT e esta foi uma das motivações da Conferência e do curso que estamos querendo ofertar pela REDEEPT.
      Quanto à questão de apropriação dos recursos digitais, é preciso , na minha opinião, ao mesmo tempo que não podemos descartar nenhum tipo de recursos a serviço da educação emancipatória, analisar com cuidado o contexto da sua introdução, por suas consequências éticas e político-pedagógicas Se o objetivo é uma educação integral , um processo puramente virtual garante isso? Essa discussão não é nova , há décadas se discute sobre educação a distância, seja ela por correspondência física, como no século XIX e XX ou por lives, como atualmente. Eufemismos como 'trabalho remoto", "trabalho virtual', ^home office" (termo mal utilizado, ou utilizado com outras intenções, porque na verdade é "home work"), não podemos elidir as discussões sobre o processo e uso do trabalho docente, a precarização das relações e, simultaneamente, discutir sobre a aprendizagem, as relações ensino-aprendizagem. Em resumo não nego as possibilidades tecnológicas, mas o fenômeno precisa ser analisado na sua totalidade.
      As dificuldades de docentes e discentes com o uso da tecnologia tem aspectos objetivos (custo do acesso, qualidade das conexões e equipamentos, etc.) e subjetivos (resistências, questões psicológicas, intensificação do trabalho, etc.). Acredito que a maioria de nós está experimentando uma maior carga de trabalho nesta pandemia . "o estar em casa" exige mais que "estar na escola", porque os limites do tempo se esvanecem, o trabalho doméstico é somado (algo já vivenciado no cotidiano, sobretudo das mulheres e pessoas que vivem sozinhas, mas vivenciado com mais intensidade. Por exemplo , as crianças não estão na escola e somos exigidos constantemente enquanto pais, professores, recreadores, entre os múltiplos papeis. Há muito que discutir, daria uma conferência especifica sobre isso rsrs. Continuemos o debate!

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  3. Discurso muito importante para o momento. Sou professora Licenciada, mais concordo quando fala na prática de muitos professores bacharéis e técnicos sem uma formação pedagógica, pois nós da licenciatura temos ainda muita dificuldade pedagógica, principalmente nesse novo cenário que estamos vivendo, com trabalhos remotos. Para um ensino de qualidade, seria necessário mais formações, principalmente no momento atual, para nos aprimorarmos mais das tecnologias digitais.
    Ótima Palestra, parabéns!

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    1. Obrigado pelas boas palavras, agradeço a intervenção. Infelizmente, não sei seu nome. Fui professor de Didática turmas de licenciatura, que abrangiam Ciências Naturais, Ciências Sociais, Linguagem e Artes (quase todas, exceto Matemática e Pedagogia) e utilizava a 1a parte da disciplina para trabalhar fundamentos de Filosofia e Sociologia da Educação, ou seja , a base conceitual que dá suporte a uma didática implicada e transformadora. Essa lacuna persiste ainda hoje e ser licenciado, apesar de ser um avanço, não garante um compromisso com a educação emancipatória. Com esta base somos capazes de analisar para além dos métodos e técnicas de ensinar e compreender como se dá a aprendizagem. E, de forma criativa, podemos fazer simultaneamente a discussão conceitual com aplicação de técnicas inovadoras, participativas, mesmo no ambiente virtual.

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  4. Palestra maravilhosa Professor Almerico! Parabéns! Buscar compreender o outro com suas angústias e conflitos faz parte o princípio de alteridade. Fui contemplado quando escutei o senhor fazer belos relatos falando dos agentes sociais da Educação Profissional foi emocionante, pois estava presente neles.
    Professor Almerico durante o período que o senhor esteve como superitendente na Superintendência de Educação Profissional da Bahia quais foram as ações desenvolvidas sobre as questões étnicos raciais. O senhor desenvolveu ações para o fortalecimento das promoções da igualdade racial na EP?

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    1. Caro Luciano, que bom encontrá-lo aqui. Obrigado pela sua pergunta, me ajuda a preencher uma lacuna da fala (muita coisa ficou de fora , por conta do tempo). A experiência da educação profissional da Bahia (rede estadual) de 2008 a 2016 ,da qual você fez parte atuou em algumas direções 1. Compreender a participação de estudantes negros e negras , trabalhando no sentido de esclarecer a necessidade da auto declaração étnico racial. Com isto a não declaração caiu de cerca de 45% para cerca de 20% (ainda alto). Porém, mais importante que a estatística foi a discussão gerada no chão-da-escola a respeito de identidade e das relações étnico raciais . 2. Parceria com o Instituto Steve Biko para formação de professores/as com base no Projeto Oguntec, que entre outras questões informa e divulga o papel desempenhado por negros e negras no desenvolvimento da ciência e tecnologia. 3. Estimular o debate nas unidades escolares, em particular aquelas próximas a territórios quilombolas. Aproveito ´para divulgar seu trabalho MEMORIAL VIRTUAL: PÉROLAS NEGRAS DO RIO ALIANÇA - ARATACA -BA , produto de sua dissertação de mestrado, como exemplo dessa ação. 4. Estimular o debate e discussão na semana da consciência negra. Entretanto, tenho consciência que poderíamos ter feito mais.

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    2. Obrigado professor pela lembrança do nosso Memorial Virtual. Enfim, observo que as suas contribuições atestam uma mudança de concepção na nossa Educação Profissional da Bahia com o foco para o ensino, a pesquisa e a extensão. Os jovens negros e negras e os jovens indígenas se tornaram agentes sociais de suas vidas na E.P. da Bahia ocupando muitas cadeiras nas academias e no mundo do trabalho (isto imcomodou muita gente) mas estamos resistindo. Aproveitando visite o trabalho no GRUPO DE DIÁLOGO 2 e veja o nosso trabalhando falando sobre a AGROECOLOGIA E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO CAMPO e deixe sua contribuição, será de grande valia!

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  5. Bom dia, professor! Gostaria inicialmente de parabenizá-lo pela excelente explanação. Gostaria de saber de se há alguma experiência na REDEEPT de organização dos conteúdos formativos a partir de uma dada realidade social. Em caso positivo, poderia relatar como foi a construção e execução desse processo?

    Agradeço desde já pela contribuição!

    Gleice de Oliveira Miranda

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    1. Professora Gleice, agradeço sua participação nesta conferência. Esclareço que REDEEPT é uma rede de pesquisadores/as , professores/as estudantes que atuam em educação profissional pública emancipatória. As pesquisas são realizadas pelos grupos de pesquisa e pessoas em suas instituições (UFBA, IFBA, IFBAIANO, UFRB, UNEB).
      Tentando responder à sua pergunta, nas trocas de experiências em seminários da REDEEPT realizados em 2017 e 2019 e também com base nas várias bancas de mestrado e doutorado que tenho participado, posso afirmar que, apesar da prescrição necessária do Catálogo Nacional de Cursos, não há impedimento para contextualização e construção participativa do currículo. Evidentemente há necessidade de mediação e equilíbrio , até para garantir o direito do aproveitar curricular, quando estudantes migram para outras regiões. Na experiência da educação profissional da Bahia (rede estadual) de 2008 a 2016, que conheço melhor, houve construção da parte especifica das matrizes curriculares com participação dos professores/as (mais de mil participaram dos debates por eixo tecnológico) e, embora as disciplinas tivessem a mesma denominação , as ementas explicitavam a necessidade de contextualizar as disciplinas quanto ao bioma e processos sociais. Por exemplo o curso de enfermagem ou agropecuária não poderia ser o mesmo no semiárido e no litoral . Acredito que o sucesso foi parcial, com esforço de muitos Centros de criar uma identidade curricular, envolvendo tanto a comunidade escolar quanto a comunidade dos territórios do entorno. Apenas como exemplo, cito o CEEP do Campo Paulo Freire em Santa Luz , o CEEP do campo Milton Santos em Arataca e o Colégio Estadual Indígena Tupinambá Serra do Padeiro em Buerarema, porém outros centros territoriais e estaduais também atuaram neste sentido.

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  6. Bom dia, professor! Parabenizo pela explanação, com um resumo das temáticas inerentes da realidade da Educação Profissional brasileira. Entre essas questões enfatizo a importância da discussão do curriculo integrado, ainda existe uma dificuldade muito grande em integrar as disciplinas do núcleo comum com as técnicas, temos muita resistência no trabalho interdisciplinar e transdisciplinar.

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    1. Cara Professora Joevângela, prazer reencontrá-la aqui. concordo com sua observação. O trio concepção - currículo - didática devem ser trabalhados necessariamente articulados. Somente assim a resistência pode ser rompida. Fomos, desde o ensino fundamental, formados para pensar disciplinarmente e isso prosseguiu até o ensino superior e além. Quebrar a casca da visão estreita da disciplina , mas driblando a ideia de polivalência docente que é travestida de transdisciplinaridade são grandes desafios. Não é fácil, mas é possível. Esta fala foi centrada nas dimensões didáticas, mas estou me preparando para gravar um vídeo mais "curricular", devido exatamente à demanda que você bem localizou. Continuemos o diálogo e as trocas!

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  7. Gratidão Prof. Almerico por compartilhar saberes tão essenciais. A apropriação dos sujeitos escolares sobre os princípios que subsidiam o projeto da EP legítima o conhecimento como força na resistência contra a alienação.
    Aproveito o espaço para elucidar mais meu objeto de estudo no mestrado e perguto: Na compreensão tão essencial de práxis na EP, como explicar a flexibilidade quanto a obrigatoriedade do estágio( via TCC) quando se poderia ampliar as possibilidades do estágio social e do estagio via 1o emprego?

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    1. Professora Rose, prazer em reencontrá-la aqui. Obrigado pela pergunta, muito importante e não tive tempo para desenvolver na fala gravada. Com a adoção da nova Lei do Estágio (Lei 11.788/2008), ele passa a ser considerado "ato educativo" e são estabelecidas disposições restritivas ao uso do mesmo como precarização do trabalho. A confluência desta questão com o aumento da demanda de estágio pelo crescimento acelerado da EPT gerou um gargalo de oferta, já que as empresas (principal loci de estágio) demoraram a se adaptar. Diversas instituições, entre elas unidades do Sistema S e da Rede Federal, resolveram introduzir formas alternativas de conclusão de curso, entre elas o TCC, aparentemente por questões pragmáticas. Na rede estadual, ao contrário, neste período foi reafirmada a obrigatoriedade do estágio, baseado na concepção que expliquei na fala gravada. A prática no ambiente de trabalho. mesmo a considerando complementar, é nessa perspectiva elemento indispensável da formação, seja do ponto de vista filosófico-pedagógico (trabalho produz conhecimento e aplicação prática de conhecimentos no ambiente real de trabalho os resignifica). Porém , mesmo sob o olhar pragmático, o estágio tem valor concreto: para o estudante é uma fonte de renda e também um passaporte para seu 1o emprego, pois é considerado pelo empregador como "experiência" (no mesmo local de trabalho ou em outro). Nesta linha o estágio social seria não apenas uma solução para a "falta de estágio", mas também uma das formas de institucionalização da intervenção social como princípio pedagógico , a afinidade conceitual seria aprofundada a partir da mesma base. Entretanto, a gestão da rede estadual de EPT "importou" a ideia do TCC (algumas escolas mantinham a prática anterior a 2008, mas não substituía o estágio) em 2017, provavelmente por motivos pragmáticos e pela não afinidade com a concepção emancipatória. Tenho esperança que esta dicotomia seja superada pela nova gestão (2019), que tem revelado maior afinidade conceitual com o exposto na fala gravada. Além disso, o estágio é uma das modalidades do Programa Estadual 1o Emprego e seria um contra senso extingui-lo.

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  8. Professor Américo, agradeço por compartilhar conosco reflexões tão ricas que contribuem para nossa formação. Faço parte de uma equipe pedagógica de um Instituto Federal e sua fala inicial traduziu perfeitamente alguns de nossos dilemas. Creio que é preciso aproximar a educação profissional da vida que é arte, linguagem, memória, tecnologia, identidade, dentre outros aspectos dessa teia complexa que nos faz humanos. Enquanto educadores creio que precisamos de motivação, e sua fala é muito motivadora, e sigamos falando a quem se interessa, se compromete e movidos por esse desejo vamos construindo essa escola que acreditamos ser possível. Grata por essa fala e pelas indicações de leituras!

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    1. Prezada Professora Grace, obrigado pelas boas palavras! O que nos motiva também é isso, interlocução sensível e possibilidade de trocas. Você resumiu muito bem o objetivo e a missão que nós educadores educadoras comprometidos com emancipação e formação humanas precisamos assumir. Continuemos a trocar ideias e experiências.

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  9. Olá professor! Ótima conferência! Creio que revelou muitas das angústias e desafios tanto dos profissionais da educacão, em que me incluo, quanto dos educandos. A docência é um desafio, sou licenciada em Química (UFPel) e mestra em EPT (IFSul) e percebo que a docência na EPT guarda suas particularidades, principalmente quando se assume uma educação para o mundo do trabalho e não apenas focada no mercado de trabalho. Diante disso, a educação precisa ser emancipatória e isto é um grande desafio para os licenciados e, até mesmo para estes, não há total garantia de alcance, mas compreendo que estes possuam os instrumentos e conhecimentos básicos para isso. Aqui no RS, os concursos públicos, em geral, não exigem licenciatura para cargos docentes em Institutos Federais e Universidades. Será que essa exigência não seria necessária? Será que ao deixar de exigir a licenciatura ou a pedagogia não estamos contribuindo para a desvalorização destes cursos e da docência? Pergunto isso, pois, como Licenciada em Química, nunca me surgiu uma oportunidade profissional de Bacharel, pois eram compreendidos como cursos totalmente diferentes em seus objetivos e eu concordo com isso. Mas é claro que existem casos extremamente técnicos e/ou específicos que talvez apenas bacharéis sejam capazes de ensinar.
    Obrigada!
    Sandra Levien (IFSul -RS)

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    1. Obrigado, Professora Sandra! Bom ver nosso "pessoal de química" tão interessado na totalidade do processo educacional.
      Sim, a docência na EPT tem elementos gerais de toda a docência e específicos da modalidade, por uma maior aproximação com o mundo do trabalho, mediado não apenas pelas ciência naturais e pela tecnologia , como também pela ciências sociais e pela ciências da linguagem. Uma educação emancipatória implica na compreensão da totalidade social e, portanto, não pode ficar limitada ao mercado, que é uma parte do todo social.
      Ao mesmo tempo que concordo com você que os conhecimentos pedagógicos são conhecimentos científicos desenvolvidos no âmbito da Pedagogia (a ciência da Educação), reflito que a questão não é a exigência de licenciatura nos concursos, até porque não existem licenciaturas para a maioria das áreas técnicas . Imagino um movimento em 3 tempos. 1. Ressignificar as atuais licenciaturas incluindo formação relativa aos princípios da EPT, ao currículo integrado e à pesquisa aplicada ao desenvolvimento de tecnologias sociais; 2. Tornar a entrada nas instituições públicas de educação profissional "cursos-concurso", em que o bacharel ´passa por formação pedagógica e estágio em serviço 3, Criar uma cultura de planejamento coletivo, pautada da inter e transdisciplinaridade.
      Sinceramente, não acho que licenciatura e bacharelado sejam cursos "diferentes" , pois o que define o curso é sua base sócio técnica e não a sua finalidade (no seu exemplo, o mercado de trabalho). As dimensões científico-tecnológicas, ético-políticas e o papel social da química (por exemplo) são as mesmas, independente do local de trabalho. A separação é uma tradição com base numa escala de títulos e como a sociedade e o mercado de trabalho os valoriza (ou desvaloriza). Uma "distinção, na acepção de Bourdieu Considero licenciatura e bacharelado como "especializações" dentro de uma formação comum.
      Afinal no que diferem concretamente? seis ou sete disciplinas? Um TCC de pesquisa aplicada X um TCC de prática pedagógica. Deveriam ser intercambiáveis, de forma a dar maior liberdade ao formando e não agrilhoá-lo ao mercado. Sigamos dialogando...

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  10. Olá, professor Antonio, parabéns por colocar essa discussão sobre ensino técnico. Percebo que o ensino integrado não é integrado em muitos lugares, inclusive onde trabalho. E na prática o ensino na escola parece sempre um mundo separado da realidade do estudante. Como você falou da prática profissional que pode objetivar a realização de projetos para a melhoria do contexto do estudante, percebo que isso permitiria uma relação verdadeira com a comunidade, com o local onde vive o estudante e onde ele estuda, uma relação transformadora de fato. Essa consciência social quase não é praticada, ou desenvolvida, na escola.

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    1. Obrigado, professora Josiane! Exatamente! Sua constatação sobre o currículo concreto é a mesma que faço e uma das perspectivas de solução é a aproximação com a realidade do território em que se insere os estudantes e a unidade escolar. Posso afirmar que isso não é apenas em teoria, em diversos locais em que aconteceu, são relatadas diversos avanços na integração e na maior consciência de professores e estudantes

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  11. Professor Almerico, parabéns pela exposição!

    A grande relevância do tema abordado, em particular a questão sobre o currículo integrado, me remete a questionar, como ou quais as possibilidades de se expressar na matriz curricular a concepção de currículo integrado?

    Grande abraço.

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    1. Olá professor Ruy, que bom ver mais um pesquisador da REDEEPT, por aqui, além de mim e da professora Rose! Apesar do foco da conferencia ser a didática da EPT, é impossível falar dela sem articular com concepção de EPT emancipatória e currículo, em particular o integrado. Respondendo brevemente sua pergunta , sim há várias possibilidades dessa necessária expressão ocorrer.Digo necessária, porque se não expressa, não está transparente para os sujeitos ou seja, é oculto, o que leva à pergunta: porque a ocultação de um aspecto tão relevante, definidor mesmo, do currículo?
      A experiência da educação profissional da rede estadual da Bahia de (2008 - 2016) achou uma forma que não se constitui em um modelo mas uma evidencia concreta da possibilidade de integração, que nasce da concepção, perpassa o currículo e desagua nas práticas pedagógicas. São 3 níveis de integração curricular 1. A nível de cada disciplina , seja ela da educação básica ou da formação técnica específica; 2. A nível das disciplinas da formação técnica geral (falo mais sobre isso abaixo) e 3. No nível geral, de ações inter trans disciplinares de intervenção social , que envolvem toda a unidade escolar, podendo ser inclusive multiseriadas (envolvem turmas de anos diferentes do curso técnico de nível médio).
      Formação técnica geral (FTG) é um artefato pedagógico desenvolvido pelos metalúrgicos da CUT , com apoio da COPPE/UFRJ quando executaram um programa de formação denominado Integrar, de elevação de escolaridade integrada a qualificação profissional (que denominaríamos hoje de PROEJA-FIC)a partir dos anos 1995, tendo seu auge no inicio dos anos 2000 e que sobrevive , em escala menor até hoje.
      A FTG consiste em um conjunto de disciplinas articuladas entre si e entre as demais componentes curriculares, fazendo uma "ponte " para a integração de conhecimentos e saberes.
      Na experiência da rede estadual da Bahia, a FTG foi pensada em relação a disciplinas da Base Nacional comum, mas voltada para o mundo do trabalho, em um exercício de abstração: "que conhecimentos são comuns e necessários todo tipo de profissão, seja ela manual ou intelectual,, industrial ou de serviços ou rural, na perspectiva da educação integral?" A resposta foi : 1. Linguagem - Inclusão digital , 2. Biologia - Saúde e Segurança do Trabalho, 3 e 4 Filosofia do trabalho- ética e direito do trabalho e iniciação científica 5 e 6 Sociologia do trabalho - organização do processo de trabalho e organização social do trabalho.
      Evidentemente o maior ou menor sucesso dependeu tanto da formação e do compromisso do/a professor/a e gestor/a, bem como a formação do coletivo de professores/as para o planejamento integrado, além do apoio permanente da Suprof. os resultados , então,não são homogêneos, havendo casos de forte integração e em outros mais fracos, embora as evidencias positivas superem as negativas.

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    2. Obrigado professor, esclarecedor!

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  12. Olá Professor,
    Ótima aula e reflexões!

    Sou servidor no Instituto Federal Sul-rio-grandense, sou Mestre em Educação Profissional e Tecnológica e Licenciado em Física. Em seu discurso muito me interessou as relações entre a tecnologia/técnica com a educação profissional e as formas de integração. Percebe-se que a tecnologia ainda atende, em grande parte, apenas as demandas econômicas, ou seja, as tecnologias financiadas e postas em práticas, normalmente, são aquelas que mais geram lucros. Diante disso, penso, como servidor de um IF, que a educação profissional e tecnológica, nessas instituições, precisa focar em um ensino de uma tecnologia para a humanidade, pois se queremos uma educação transformadora em nossas instituições, precisamos começar trazendo para a sala de aula esta funcionalidade social da tecnologia.
    Hoje, em tempos de pandemia, mais do que nunca, percebemos a importância da tecnologia e da ciência para salvar vidas. Certamente a ciência e a tecnologia podem levar à transformação social, a manutenção da vida, do trabalho mas, também, podem ser instrumentos de opressão e de aceitamento das condições vigentes de sociedade, em que poucos dispõem efetivamente destas. Não há apenas como pensar em lucratividade científica ou tecnológica, precisamos mudar esta forma de ver esses conceitos, principalmente quando nossa proposta é de uma educação omnilateral. Quem sabe se a melhoria da qualidade de vida das pessoas fosse uma preocupação constante, talvez hoje tivéssemos respostas mais rápidas ou efetivas à pandemia e outras melhorias em tantos outros temas de importância social mas sem visível relevância econômica.
    Assim, gostaria de saber se, pela sua experiência, a escola já está conseguindo trazer essa visão humana da ciência e da tecnologia e como avançar ainda mais.

    Obrigado!

    Davi Henrique Rosskopf

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    1. Prezado professor Davi, obrigado pela audiência e reflexões. o conceito de tecnologia social resume que se considera o papel da tecnologia na sociedade. Nenhuma tecnologia é neutra, atemporal ou não vinculada, de alguma forma, aos desafios sociais de sua época. Ora, se temos lado, o lado dos subalternos que precisam, querem , devem se emancipar, a tecnologia que defendemos tem outro objetivo que não o do lucro, entendido como a parte da mais-valia apropriada pelo empresário no processo produtivo capitalista. Isto não que dizer que não procuremos desenvolver técnica melhores, mais econômicas, mais eficazes, mais produtivas, mas o objetivo é outro, o bem estar coletivo. Por isso, valores como segurança do trabalhador, respeito ao meio ambiente e cultura locais, remuneração justa, custo e preço acessível, entre outros, são valores que se sobrepõem aos interesses individuais.
      Analisando várias experiências, vejo que muitas relacionam a prática com a resolução de problemas empresariais (SENAI, por exemplo). Outras são incentivadas a ser patenteadas e conseguir patrocínio empresarial , ou como professor criando uma empresa , como se o ambiente, tempo e recursos materiais e humanos não fossem financiados por fundos públicos (caso de diversas universidades). Já outras enveredam pela linha da tecnologia social, que não nega a autoria, mas se baseia no uso público, (geralmente gratuito ou só com preço de custo) do bem criado com recurso público.
      A pandemia estimulou o esforço tecnológico, mas em muitos casos , ficamos reféns dos dois primeiros modos de pensar a ciência e a tecnologia. O caso da (s) vacina (s) é o exemplo maior, mas se aplica também a tecnologia cotidiana, mais simples, como mascaras de proteção.
      O aprendizado não vai ocorrer colocando estudantes em uma linha de montagem "fabrica", onde a prática é meramente reiterativa, por vezes desvinculada do próprio curso técnico.que frequenta
      Propagandearmos a tecnologia social e um compreensão emancipatória das relações da ciência, tecnologia e sociedade me parece fundamental E, à sua pergunta respondo afirmativamente: onde essa perspectiva foi implantada, houve um "contágio" positivo e uma imensa mobilização de estudantes e professores no sentido de resolver ou minimizar problemas sociais específicos do seu território, o que é muito alentador.

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  13. É necessário realmente aprender a realidade, abrir as múltiplas possibilidades de aprendizagem. Muito bom ter colocado Professor a apropriação do conhecimento digital e educação do corpo. Parabéns pela belíssima explanação!!!

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    1. Obrigado! Essa multiplicidade que compõe a formação integral ,não pode excluir a compreensão crítica da tecnologia digital onipresente hoje em todos os campos da ação humana, nem negar o corpo humano como fonte de conhecimento sensorial, cinestésico e cultural. Sem isso fica faltando peças do quebra-cabeça da formação humana"

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